Lucas Headquarters #100 – 5 STAR GP 2023: De degrau em degrau até ao céu
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão?
Bem-vindos sejam a mais uma edição do “Lucas Headquarters” aqui no
WrestlingNotícias!!
Eu bem disse que, apesar da centésima edição ser atingida
hoje, uma comemoração, um assinalar de marco “com jeito e maneira” (como se diz
por aqui) só aconteceria para a semana. E assim será, efetivamente.
Todavia, eu não consigo deixar de pensar no quão longe chegou
este artigo em apenas uma centena de entradas. Eu não consigo deixar de pensar
no quão gratificante é, para mim, deixar gravadas na História da comunidade de wrestling online portuguesa as minhas
opiniões, mesmo que só dois ou três as queiram ler, e mesmo que muitos
discordem da minha maneira de pensar. Mas, como se costuma dizer e é mais que
verdadeiro, das grandes discordâncias nascem sempre as grandes ideias.
Enfim, a lamechice e a intimidade estão guardadas para o próximo Sábado, porque, feliz e infelizmente, a atualidade impõe-se, e como qualquer artigo de opinião com uma índole mais ou menos jornalística pelo meio, é à atualidade que devemos dar prioridade.
Não se apoquentem, caros comensais
do wrestling, que esta não é daquelas
atualidades que fazem parar o país por um avião onde vai-se a ver e só vão dois
pilotos e o John Cena (e como é que só a CMTV é que reparou nele?). Esta é
daquelas atualidades pelas quais sinto que vale verdadeiramente a pena adiar
por uma semana o assinalar deste marco importante.
Se vocês acompanham o fenómeno joshi a par das lides americanas desta bela modalidade, sabem tão
bem como eu que existem duas alturas no calendário que podemos considerar como
sendo a mais bela altura do ano para se ser fã de wrestling.
A primeira é, indubitavelmente, a estrada para a
WrestleMania. Aliás, arrisco até dizer que no caso desses primeiros três meses
de calendário as coisas funcionam um pouco como no desporto mais coletivo: Até
mesmo quem no passado já tenha visto wrestling
mas tenha deixado de acompanhar acaba por regressar durante esse período de
tempo, só porque, pronto, é a WrestleMania.
E depois lá temos nós fazer uma trip down memory lane durante um bom período de tempo, porque temos
que resumir tudo o que aconteceu antes para que algumas das coisas que se vão
passar naquela altura façam o mínimo de sentido. Nada contra, as pessoas
simplesmente ou já não sentem o bichinho do wrestling
ou então não têm muito tempo para estar a par (esta última já aconteceu
comigo e não quer dizer que não volte a suceder).
Mas este é, também, o charme de um evento como a WrestleMania: É algo que já está tão enraizado no espectro do entretenimento desportivo e algo que já é tão indissociável do wrestling em geral que as pessoas simplesmente não vão deixar de ver ou de saber o que se passou.
E
aqui – demos a César o que é de César – está um excelente trabalho de quase
quatro décadas de criação de um evento que simbolize, em toda a linha, aquilo
que o wrestling é, ou devia ser. Pena
que muitas delas, no decorrer da última década, tenham passado a sensação de um
simples PPV, mas isso será história para um outro artigo, talvez.
A segunda altura é precisamente aquela que se inicia com este
fim-de-semana e que este ano vai até 30 de Setembro: O 5 STAR GP da STARDOM.
Na ausência de uma “WrestleMania” declarada (embora muitos fãs considerem que o Dream Queendom, que geralmente acontece no fechar do ano civil, pode ser entendido como tal), o 5 STAR GP é aquele torneio que mais fãs agrega em volta da companhia, mais não seja porque apresenta todos os elementos que uma WrestleMania deve ter – qualidade nos combates, imprevisibilidade, surpresa… - e maximiza-os ao longo dos últimos dois meses de Verão. É claro que há sempre noites que, em termos de card, são melhores do que outras.
Por exemplo, se calharmos a ter uma noite em que MIRAI mede forças com Suzu Suzuki ou Giulia dá de caras com Mayu Iwatani numa altura em que falta um mês para o fim do torneio e ambos os blocos estão em aberto (como foi o caso do ano passado), aí já podemos dizer que temos a noite ganha e que terá valido a pena comprar bilhete por comparação a uma noite onde, se calhar, Koguma enfrenta Saki Kashima (sem desrespeito para ambas, mas o critério aqui é apenas a importância dentro do roster). Mas, no computo geral, acaba por ser um evento onde os combates estão bem distribuídos pelos respetivos dias e onde a qualidade é sempre elevada.
O 5 STAR GP representa, como aliás o título já deixa antever,
uma autêntica “escadaria para o paraíso”. Se bem que, e se quisermos continuar
a utilizar linguagem metafórica, este ano existirão mais semelhanças com uma
estrada cheia de curvas em pleno concelho de Odemira, porque, tal como nunca
sabemos se vamos acabar a tarde a vomitar o almoço em resultado dessas curvas
pelas quais passamos, na edição deste ano também não há uma vencedora
declarada.
Na edição passada, e sendo praticamente certo que Giulia seria a vencedora do torneio (o que se veio a confirmar na final de 1 de Outubro), a STARDOM soube trabalhar de forma excelente essa previsibilidade, ausentando Giulia depois das primeiras duas noites, e colocando-a em combates para encher chouriços noutras tantas.
O
resultado foi tremendamente positivo, não só porque se deu espaço a uma
remontada de contornos épicos que ajudou a manter a emoção em níveis altos até
ao final, como também deu espaço a MIRAI, Hazuki, Suzu Suzuki, Maika e Himeka
para brilharem e mostrarem toda a sua consistência e evolução.
Este ano, por razões óbvias e que já
mencionei, isso não poderá acontecer, mas não significa que a edição que começa
amanhã atinja contornos menos épicos, isto porque há toda uma panóplia de
cenários inéditos que podem acontecer, mas já lá iremos.
Para já, importa fazer a “análise
interna”, isto é, recordar como é que se disputa este torneio (para enquadrar
quem acompanha pela primeira vez) e lançar os blocos para cima da mesa.
O 5 STAR GP funciona mais ou menos
como um campeonato de futebol: É disputado num sistema de pontos (round-robin) com cada vitória a valer
dois pontos, o empate, um e a derrota zero. Para que esta disputa aconteça de
uma forma mais ou menos organizada, vinte wrestlers
vão ser divididas em dois blocos de dez wrestlers
cada (Red Stars Block e Blue Stars Block) com as vencedoras de cada bloco a
enfrentarem-se na final, que este ano terá lugar a 30 de Setembro.
Os blocos que constituem o torneio
deste ano são os seguintes:
Red Stars Block: Ami Sourei, Natsuko Tora, Hazuki, Natsupoi, Starlight
Kid, Suzu Suzuki, Syuri, Saya Kamitani, Mayu Iwatani e Tam Nakano (c)*.
Blue Stars Block: Utami Hayashishita, Hanan, Mariah May, Giulia, Mina
Shirakawa, AZM, MIRAI, Momo Watanabe, Saori Anou e Maika.
·
- ((c) representa a World of Stardom Champion à entrada para o torneio.
Agora que já estão explícitos os
blocos, vamos estabelecer os possíveis cenários e as candidatas à vitória.
Claro que não vou incluir as wrestlers que
vão protagonizar estes cenários no lote de candidatas, pois elas já são
candidatas por si só.
Giulia back-to-back?
No entanto, toda essa componente épica e altamente excitante da vitória no torneio não se traduziu no reinado da anglo-ítalo-nipónica que lidera as Donna del Mondo: Foram apenas 115 dias como campeã, o que, transpondo para meses, chega perto dos quatro. Defesas de título também foram relativamente parcas e, embora tenham dado combates intensos, foram, em última análise, pouco emocionantes.
Neste capítulo constam apenas os nomes de Suzu Suzuki (Supreme Fight, 4 de Fevereiro) e Maya Yukihi (Final do Triangle Derby I, 4 de Março). A terceira defesa veio a 23 de Abril contra Tam Nakano, onde Giulia acabou por perder o título.
Podemos, contudo, tirar daqui uma certeza que é quase inegável: Giulia terá um segundo reinado como World of STARDOM Champion e, por mais paradoxal que pareça, a derrota perante Tam Nakano confirma-o por várias razões, tenham elas que ver com a duração curta do reinado ou a quantidade insana de dream matches que podiam ter acontecido e ainda estão por acontecer. A única coisa que não sabe é quando (e como) isso se vai suceder.
E enquanto não sabemos, a STARDOM tem aqui uma excelente oportunidade para tornar Giulia não só como a primeira vencedora de sempre de duas edições do torneio, mas como a primeira vencedora de sempre de duas edições consecutivas do torneio. E aí, o facto de poder vir a falhar na recuperação do título seria irrisório, porque Giulia tem um appeal de tal ordem que não precisa de títulos para se fazer notar e o facto de fazer aquilo que até agora ninguém fez só iria cimentar mais o seu legado.
Não obstante, Giulia é neste momento
dupla campeã (NJPW Strong Champion e Artist of STARDOM Champion) o que, a menos
que perca um dos títulos a meio desta caminhada, torna este cenário um pouco
inviável. Colocar em Giulia todo o ónus da glória da empresa seria colocá-la
num pedestal que, embora ela seja perfeitamente capaz de subir, iria colocar
todas as outras wrestlers num patamar
injustamente inferior e dificultaria (e de que maneira) a criação de novas
estrelas.
Utami recupera a coroa?
O mesmo cenário que poderia acontecer
com Giulia poderá acontecer com Utami Hayashishita. Neste momento, as
probabilidades de tal acontecer são grandes, e com a renúncia temporária à
liderança das Queen’s Quest para embarcar numa jornada de autorreflexão (vulgo
mão cheia de combates na GCW) esta hipótese ganha ainda mais força.
O grande alicerce deste cenário não
vem, contudo, apenas desse acontecimento que marcou o MidSummer Champions e
deixou toda a gente com muitas dúvidas. Há todo um historial de tensão entre
Utami e Saya Kamitani que, entretanto, se resolveu dentro daquela jaula onde as
Queen’s Quest batalharam com as Oedo Tai no STARDOM Sunshine de há três
semanas, mas, embora essas tensões estejam no passado, todos esses momentos
abriram espaço a um redemption arc semelhante
ao da líder das DDM que, se bem executado, pode novamente colocar Utami
Hayashishita como alvo a abater.
Este cenário tem muito maiores
probabilidades de acontecer porque, para além desse redemption arc, Utami está despida de ouro à cintura já desde 2021.
Com quase 25 anos de idade e toda uma carreira brilhante pela frente, talvez
esta seja a oportunidade perfeita para a STARDOM fazer de Utami Hayashishita a
sua principal cara, antes que a líder das QQ se decida talvez fixar nos Estados
Unidos (e do modo como a sua jornada na GCW tem corrido, talvez isso não fosse
uma ideia assim tão má).
Outras possíveis vencedoras
Maika
Este tem sido um ano cheio de emoções para Maika. Desde ter estado perto de vencer os Goddess Tag Team Championships com Himeka em Fevereiro passado, até ter sido a última adversária da própria Himeka já em Abril, quando esta teve o seu último combate na STARDOM, até uma possível stable e heel turn ao lado de Suzu Suzuki e Mei Seira.
Tendo isto em conta, eu diria que está aqui uma excelente oportunidade
para capitalizar numa wrestler que
tem todas as condições para ser a próxima cara da STARDOM, porque power game, presença e carisma não lhe
faltam. Ainda para mais se tivermos em conta o quão perto esteve de vencer a edição
passada…
Na minha opinião, se Maika tivesse de
vencer este torneio, uma vitória e a formação da tal stable seria um cenário ao qual eu não daria um não como resposta.
E com duas promessas tão brilhantes como Seira e Suzuki ao seu lado… poderíamos
estar aqui perante uma three women power
trip para a História.
Hazuki
Encontrar o nome de Hazuki entre
aquelas que, na minha opinião, são candidatas à vitória no torneio seria
estranho se estivéssemos a falar do GP do ano passado. Mas quem viu o brilhante
torneio que a integrante das STARS acabou por fazer perceberá que a inclusão no
lote de candidatas para este ano é, acima de tudo, um prémio pela
extraordinária evolução que apresentou desde aí, e que começou precisamente com
a excelente prestação na edição de 2022, na qual disfrutou de um mês de Agosto
imaculado.
É claro que a vitória de Hazuki será
um tanto quanto improvável, anticlimática ou qualquer termo semelhante, uma vez
que precisaria de um character development cujo grau, neste momento,
ainda não possui (lentamente vai lá chegando). Mas não deixa de ser um nome a
ter em conta se considerarmos que não há uma favorita clara e que a STARDOM tem
surpreendido muita gente ao longo dos últimos meses, com decisões que ninguém
esperava serem tomadas.
Saori Anou
O caso de Saori Anou é bastante
curioso. Saori Anou sempre foi conhecida pela sua reputação de “infiltrada”, de
rogue agent, e muita gente desconfiou dela depois de entrar nas Cosmic
Angels, embora o final do combate que teve com Natsupoi no Midsummer Champions
tenha desfeito algumas dúvidas.
Ainda assim, o quão épico seria se
Saori vencesse o torneio, Tam Nakano ficasse com o título até Dezembro e, na
altura do combate, Saori revelasse a sua verdadeira face? Tendo em conta que o
fim de carreira de Nakano pode estar para breve (ela própria o disse várias
vezes), não poderia Saori estabelecer-se como uma heel convincente se
fosse ela a encerrar a história da Tam? Tantas perguntas…
Dark Horses
Mina Shirakawa
Era um insulto, depois do ano que
está a ter, não colocar Mina Shirakawa na lista de dark horses do
torneio este ano. E seria até favorita se não fosse Goddess of STARDOM
Champion, porque a história com Tam Nakano, essa, está longe do seu fim.
Mina Shirakawa evoluiu bastante desde que voltou em Dezembro e formou as Club Venus. Não só isso, tem sido também responsável por um interessante trabalho de mentoria (à semelhança de Syuri nas God’s Eye) do qual Mariah May e Xena têm beneficiado a olhos vistos.
O carisma
e Main Event Appeal que Shirakawa conseguiu angariar estão mais altos do
que nunca, e, mesmo não vencendo, a STARDOM não pode perder esta oportunidade
para mostrar ao mundo que afinal, Mina Shirakawa não é assim tão afterthought
como alguma vez se chegou a pensar.
Mariah May
grande escala. Mariah May chegou como uma perfeita
desconhecida, mas a mentoria de Shirakawa tem quase sempre colocado a britânica
em primeiro plano.
Com uma grande psicologia em ringue
(sobretudo quando se trata de encarnar uma faceta mais egocêntrica, por
exemplo, quando logo no início do combate ela exclama “onegaishimasu”
para uma qualquer adversária) Mariah May tem como outro grande trunfo o físico,
apesar de possuir menos power game e mais velocidade por comparação, por
exemplo, a Xena. A outra questão é que Mariah terá caído nas graças dos
responsáveis da empresa, pelo que vê-la fazer um bom torneio não será surpresa.
Suzu Suzuki
No ano passado surpreendeu, fez
quinze pontos e disputou com Giulia as Blue Stars até final. Este ano não se
sabe muito bem o que fará (há até quem diga que pode vir a vencer, o que, a meu
ver, seria dar-lhe overpush) mas não há nenhuma dúvida que a pequenina
Suzu voltará a surpreender. Este ano calhou nas Red Stars, que em comparação ao
bloco azul têm um bocadinho menos de star power, no entanto, ainda há
espaço para combates de elevada craveira com Natsupoi, Starlight Kid, Syuri e
até mesmo a campeã Tam Nakano.
Mesmo que o star power do seu
bloco seja menor (pelo menos parece), Suzu Suzuki tem todas as condições para
voltar a disputar a vitória no seu bloco. E quem sabe, se este ano voltar a
repetir façanha, talvez para o ano possa ser considerada favorita?
E vocês, quem acham que vencerá o 5
STAR GP deste ano? E quem poderá surpreender?
E assim chega ao fim esta (longa) edição de “Lucas
Headquarters”!! Não se esqueçam de passar pelo
nosso site, pelo nosso Telegram, deixar a vossa opinião aí em baixo… o costume.
Para a semana cá estarei com mais um artigo, desta feita dedicado ao número
redondo que atingimos hoje!!
Peace and
love, até ao meu regresso! Que seja um excelente 5 STAR GP!!