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Lucas Headquarters #155 – Obrigado, Arisa Nakajima!!


Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Que tal vai isso? Já há algum tempo que não nos víamos!! Bem-vindos sejam a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias. Contra todas as previsões, tirei uma semana de folga, muito em parte devido a motivos familiares que por esta altura acabam sempre por surgir, e que tenho a certeza que muitos de vós, senão mesmo todos os que habitualmente leem o que escrevo, sabem quais são.


Hoje é fim-de-semana de All In, mas por incrível que pareça não é isso que me traz aqui. O que me traz aqui esta semana é um motivo… um pouco irónico, porque o fascínio que o wrestling provoca em nós também tem muito disso. Talvez seja apenas uma feliz coincidência – eu não gosto muito de basear a minha vida em superstições, acho que isso muitas vezes é uma desculpa para esconder algo que não queremos concretizar. Mas a forma como o calendário converge em certos momentos marcantes é algo que devia ser caso de estudo.


Hoje é 24 de Agosto de 2024. Para muitos, um normal Sábado de uma altura em que o Verão começa a chegar ao fim. Para os fãs de wrestling, isso não é bem assim. Há um ano a esta parte, de forma surpreendente, despedíamo-nos do Bray Wyatt, num momento de choque, tristeza, mas também de alguma incerteza por não sabermos se Taylor Rotunda iria ter a coragem de continuar aquilo que ficou por fazer. Vai-se a ver e ele decidiu fazer isso mesmo, e o resultado, embora não agrade a toda a gente, pode ser considerado como bastante satisfatório.




Tudo isto aconteceu a 24 de Agosto de 2023. Chegamos a 24 de Agosto de 2024 e, embora estejamos aliviados porque, felizmente, não morreu ninguém importante nesta nossa esfera, damos por nós a ter o mesmo sentimento de tristeza. O que muda aqui é que essa tristeza não se mistura com incerteza, mas neste caso, anda de mãos dadas com a gratidão.


Arisa Nakajima, um dos grandes nomes da geração atual do joshi wrestling, teve ontem o seu último combate e terminou um percurso ímpar de 18 anos. E talvez colocar Arisa Nakajima e Bray Wyatt no mesmo pedestal seja um erro, porque o alcance que a WWE tem é dez, vinte, trinta vezes maior do que o alcance que o joshi wrestling tem.


O joshi é, por si só, um nicho dentro de um nicho, ou seja, se o wrestling já deixou de ter aquele alcance que tinha outrora e o seu consumo se encontra agora reduzido a pequenos grandes grupos de fãs ao redor do mundo, o joshi tem um alcance ainda mais pequeno do que o próprio wrestling em si, porque mesmo que existam plataformas que transmitem shows do wrestling feminino japonês, se tirarmos o WrestleUniverse da equação… o que é que nos sobra?




Ao olharmos para o caso de Arisa Nakajima, com certeza que nos vem de novo à memória aquela que nos últimos anos tem deixado de ser a norma do joshi: Fins de carreira, no mais tardar, entre os trinta e os quarenta anos de idade. De novo nos lembramos de Himeka (que aí há um mês e meio, mais coisa menos coisa, até saiu da reforma para fazer de árbitro), Hiromi Mimura, Hazuki (a certa altura), mas o caso de Arisa nada tem a ver com estes três.

Himeka, Hiromi Mimura e Hazuki retiraram-se por opção própria e apenas esta última acabaria por voltar atrás com a decisão. Arisa Nakajima decidiu terminar a carreira porque o corpo lhe passou uma pesada fatura. Em parte, Arisa beneficiou da mesma vantagem de Himeka (no sentido em que pôde, pelo menos, escolher quando queria sair de cena), mas a pergunta que fica é…


Será que Arisa Nakajima terminou a sua carreira 

nos seus termos?


Esta é uma pergunta que tem capital importância, porque o facto de Arisa ter podido escolher a data em que se quis retirar pode criar essa ilusão. Mais uma vez, ela usou de uma prerrogativa que muitos wrestlers não têm a hipótese de o fazer, e tal como Himeka ainda estava em idade de fazer mais cinco, dez anos de carreira (provavelmente assistiríamos a um percurso muito semelhante ao de Nanae Takahashi). Mas, lá no fundo, sabemos bem que um wrestler que é obrigado a terminar a carreira por estar constantemente a lidar com lesões nunca fica em paz, nem consigo mesmo, nem com a forma como acabou o seu percurso.


Atenção, esta impaciência pode, muitas vezes, ter o efeito contrário e levar a um final feliz, e nos últimos anos tivemos vários casos marcantes: Bryan Danielson, Saraya, Christian Cage e Adam Copeland, todos com lesões que no entender da WWE seriam demasiado graves para arriscar um regresso (talvez Bryan Danielson e Adam Copeland tenham sido os únicos casos em que a empresa se rendeu às evidências de que estavam fisicamente aptos para lutar) mas que acabaram por voltar a lutar noutras paragens, e a ter igual nível de sucesso.



Tal pacificidade, acredito, apenas não acontece quando, encerrada a carreira por esse mesmo motivo, os wrestlers encontram uma outra função que lhes permite continuar a ser parte integrante do negócio. JBL e Shawn Michaels são dois grandes exemplos de quando isto acontece. E mesmo assim, temos aqui várias coincidências.




Primeiramente, ambos tiveram que lidar com lesões nas costas. Sabemos que a de JBL foi suficientemente grave para o afastar dos ringues e “empurrá-lo” para a posição de comentador (na sua primeira passagem por essa cadeira até esteve bastante bem, na segunda, nem por isso, mas acabaria por ficar manchado por várias polémicas), mas a de Shawn Michaels… bem que a carreira dele poderia mesmo ter acabado em 1998. A causa? Duas hérnias discais, uma das quais completamente esmagada. E eu sou-vos sincero, olhando para aquele casket match contra o Undertaker no Royal Rumble desse ano, nunca pensei que tivesse sido aí que ele se lesionou.


De qualquer forma, ambos conseguiram continuar a ter um papel preponderante dentro da indústria, um como Comissário (na altura ainda não se usava o termo General Manager) e outro como comentador. Corey Graves, que, entretanto, também já foi declarado apto, também foi obrigado a retirar-se devido a uma série de concussões e encontrou paz no papel de comentador (no qual se sente cada vez mais à vontade), ao ponto de me fazer pensar que ele nunca mais quer levantar o rabo daquela cadeira?



Se Arisa Nakajima encontrará um outro papel na indústria que a fará sentir-se em paz com a decisão, isso ainda é cedo para afirmar. Mas a verdade é que também não lhe faltam opções. Há uma STARDOM que precisa de levar um valente abanão e que poderia beneficiar daquilo que é a experiência que traz um percurso de 18 anos, e há uma MARIGOLD a dar os primeiros passos que certamente não se importava de ter Nakajima a mexer uns quantos cordelinhos por lá…


Nakajima e Takahashi: Almas gémeas?




Todo o wrestler tem aquele adversário com quem demonstra uma imensa química. Todo o wrestler tem aquele rival que, mesmo que não esteja frente a frente num combate, acaba por estar sempre no seu caminho. É aquilo a que nós, fãs, chamamos de wrestling soulmates, “almas gémeas”, se assim quisermos.


Undertaker e Kane. Triple H e Shawn Michaels. John Cena e Edge. Will Ospreay e Shingo Takagi. Young Bucks e FTR. A lista, como já perceberam, é longa, mas seria um crime não incluir aqui os nomes de Arisa Nakajima e Nanae Takahashi.


A importância que estas tiveram na carreira uma da outra estende-se muito para além do próprio ringue. Claro que, para a maioria dos fãs, o critério que define os wrestling soulmates resume-se, em muitos casos, ao número de vezes que dois wrestlers combateram e o quão memoráveis foram esses combates. Mas no caso de Arisa Nakajima e Nanae Takahashi, os caminhos entrelaçam-se também nos bastidores: É que Nanae fundou a SEAdLINNNG, empresa da qual Arisa foi, talvez, a principal figura ao longo destes últimos oito anos. Se calhar estavam mesmo destinadas…


“Comandante” Nakajima



Falando, de certa forma, daquilo que foi uma carreira que ontem terminou, vale também a pena falar sobre o último grande papel de Arisa Nakajima enquanto wrestler: A Comandante Nakajima, que integrou a SUKEBAN como parte das Dangerous Liaisons.


Olhando para aquilo que é o objetivo primordial da SUKEBAN (introduzir o joshi a uma audiência mais vasta, que tenha tido pouco ou nenhum contacto com esta vertente do wrestling), o papel de Arisa Nakajima enquanto Comandante acaba por fazer cumprir esse objetivo, isto porque dentro do roster da empresa existiam muitos nomes que a grande maioria dos fãs nem conheciam, mas com cujo trabalho acabaram por se familiarizar.


Arisa Nakajima era um desses nomes, pelas mais variadas razões: Primeiro, porque era das mais experientes (ou até mesmo a mais experiente); depois, porque ela própria carrega consigo uma aura e um carisma que a consagram como um dos grandes nomes desta geração; e finalmente porque foi uma das wrestlers que fez história na empresa (não esquecer que estamos a falar da primeira SUKEBAN). É claro que as pessoas se interessam muito mais por quem fez história do que quem passou ao lado dela…


Combates de Arisa Nakajima que vale a pena ver


Compreendo que, tal como eu, muitos de vós apenas tenham dado de caras com a Arisa Nakajima já nesta fase final da carreira. Com isso em mente, vou deixar aqui para vocês alguns combates que vale a pena serem vistos se quiserem mergulhar no seu extraordinário percurso.


Arisa Nakajima vs Kana (Asuka): JWP Pure Slam 2013, 18/8/2013






E se vos disser que Asuka e Arisa Nakajima já estiveram frente a frente no mesmo ringue? Pois bem, já foi há onze anos, num evento da Japanese Women’s Pro-Wrestling Project, ainda Asuka era uma palhaça demoníaca com o nome de Kana. É um combate tão pouco falado que dá a sensação que já aconteceu há muito mais tempo.


Acho que a pouca quantidade de vezes em que se fala neste combate não lhe faz justiça. É um combate com altos níveis de intensidade e agressividade, em que Kana faz valer o seu estilo mais técnico, mas onde Arisa Nakajima se adapta muito bem à sua adversária, dando uma excelente réplica. É um combate que vale a pena ver também pelas várias pequenas batalhas de estilos diferentes que ambas vão travando, não só a nível de subjugação, mas também de um estilo mais baseado em murros e pontapés, e a forma como vão intercalando os dois ao longo da contenda é sem dúvida interessante.


Arisa Nakajima vs Nanae Takahashi – Hair vs Hair: SEAdLINNNG, 

2/11/2019



Um dos melhores combates da carreira de Arisa Nakajima, e estou certo que de Nanae Takahashi também.


Nesta altura, já ambas se tinham fartado de estar frente a frente no ringue, mas, como sempre, quando dois velhos rivais se enfrentam muitas vezes, chega a uma altura em que é preciso elevar a fasquia, certo?


Foi o que aconteceu: Ambas as wrestlers apostaram os seus longos cabelos num combate em que quem perdesse tinha de ir à máquina zero. Foi a receita perfeita para o sucesso, já que a estipulação nos deu um combate onde tudo esteve ao mais alto nível: Técnica, intensidade, brutalidade. A força irresistível e o objeto inamovível, Nakajima com a sua técnica e inteligência e Takahashi com o seu power game. O que é que pode correr mal? Tudo, porque desta vez não é apenas a honra que está em jogo. Mas o fã de wrestling adora ver o mundo a pegar fogo…


Arisa Nakajima e Sareee vs Chika Goto e Nanae Takahashi: 

MARIGOLD Summer Gold Shine Tour, 19/8/2024



 Talvez não tenha sido o melhor dos combates de Arisa Nakajima, qualitativamente falando. Mas este é um combate que aconselho devido ao peso simbólico que tem.

Foi o penúltimo combate de Arisa enquanto wrestler, mas a verdade é que, a julgar pelo star power que estava com ela no ringue, mais parecia o derradeiro. A seu lado estava Sareee, a primeira MARIGOLD World Champion da História, que está numa run incrível, fazendo notar a sua presença nas várias empresas joshi do Japão e produzindo evento atrás de evento em nome próprio. Por sua adversária tinha Nanae Takahashi, que, para além de já ter partilhado ringue consigo no passado, fundou a empresa onde Nakajima esteve nos últimos oito anos, e na qual encerrou o seu percurso. Mais poético que isto? Impossível.


E vocês, são fãs da Arisa? Que análise fazem da carreira dela? Acham que poderá assumir um outro papel dentro do wrestling?


E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, deixem opiniões nos comentários, sugiram temas… para a semana cá estarei com mais um artigo!!


Da minha parte – e acho que falo em nome de todos os fãs – só me resta agradecer à Arisa Nakajima por estes dezoito magníficos anos em que ela, como tantos outros wrestlers, nos fez sonhar. Por cada vitória que celebrámos, e cada derrota que nos fez acreditar que da próxima vez ia ser diferente. Arigato gozaimasu!! Obrigado, Arisa Nakajima!!




Até para a semana, pessoal!! Venha de lá esse All In!!

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