Lucas Headquarters #157 – Aí está Giulia!!
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão?
Bem-vindos sejam a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no
WrestlingNotícias!! Aqui entre nós, estou a adorar o rumo que este nosso desporto
tem tomado recentemente: Antigamente, lutava-se por títulos (e não foi há tanto
tempo assim…); hoje em dia, luta-se por pulseiras, colares, e até se chega ao
ponto de incendiar casas… como não amar?
Enfim, da feud entre Swerve Strickland e “Hangman”
Adam Page falaremos para a semana, até porque é uma quezília que já se está a
desenvolver há tanto tempo que seria estranho não lhe dedicar uma edição. Mas
deixem-me começar por pegar numa ideia da edição passada, que, apesar da
loucura do fim do mês, não deixa de fazer sentido: A ideia de recomeço.
Estamos nos primeiros dias de Setembro, o Verão começa a
despedir-se, as rotinas voltam a instalar-se e daqui a pouco mais de cem dias é
Natal novamente. Na semana passada, quando fiz a antevisão do Dream Star GP da
MARIGOLD (que continua já neste Domingo), deixei implícita a ideia de uma
espécie de “recomeço” na empresa fundada por Rossy Ogawa, já que poderíamos
considerar que os primeiros três meses teriam servido para “testar as águas”:
Anunciar as novas caras, organizar os primeiros eventos e talvez sacar um ou
dois coelhos da cartola (como foi o caso da participação de IYO SKY no Summer
Destiny de Julho). A partir daqui é que a empresa iria começar a operar “a
sério”.
Mas também falei na ideia de recomeço porque a empresa iria
perder um dos seus grandes talentos e também uma das grandes caras da evolução joshi
dos últimos anos: Giulia.
Giulia teve, nos quase sete anos que já leva de carreira, um
dos percursos mais interessantes e uma das ascensões mais meteóricas dos
últimos tempos. Aventurou-se num mundo que nem sempre é fácil, mas que se torna
ainda mais difícil quando não se é, perdoem-me a expressão, “100% japonês”. A
esta altura já toda a gente sabe, como se o ring name que escolheu não
fosse suficientemente óbvio, que a Beautiful Madness é, na verdade,
anglo-nipo-italiana, ou seja, nasceu em Londres, é filha de pai italiano e mãe
japonesa e foi criada no País do Sol Nascente.
Mas isto é apenas contexto para dizer que, num mundo que já
de si é cruel e já com muitas dificuldades passadas devido ao facto de ter
dupla nacionalidade (tripla por direito de solo), Giulia teve uma ascensão que
não está ao alcance de qualquer wrestler. Obviamente que, como seria de
esperar, o seu percurso não está isento de polémica: A forma repentina como
saiu da Ice Ribbon para a STARDOM em 2019 e também o facto de se ter visto
apanhada na polémica que ditou a saída de Rossy Ogawa são os dois “senãos” que
marcam o seu currículo.
A questão que importa realçar aqui é que o seu percurso se
faz de constante mudança. Três empresas em sete anos de carreira é um nível de
nomadismo apenas comparável ao de contemporâneas como, por exemplo, Sumire
Natsu. E isso é não só um prémio pelo trabalho que tem feito em ringue, mas
também pelo trabalho que tem feito fora dele, quando o assunto é, em bom
português, “saber vender o seu peixe” – e já lá iremos.
Giulia chega à WWE quando a própria empresa está num período
de mudança e de renovação. Triple H vai, cada vez mais, assentando as suas
ideias no plano criativo e parece reunir consenso cada vez mais generalizado. A
WWE começa a abrir-se para outras empresas, como a TNA e a MARIGOLD.
Na primeira, Shawn Michaels usa o NXT como porta de entrada
para o universo branco e dourado; na segunda, a WWE tenta fazer um papel de
“embaixatriz” do wrestling, de verdadeira potenciadora do talento que
vem do Japão (oh, que mentira tão linda, Shinsuke Nakamura e Sareee que o
digam) ao permitir que IYO SKY faça parte de um dos seus eventos. Portanto, é
perfeitamente natural que as comparações entre a chegada de Giulia nesta altura
do campeonato e uma possível chegada se Vince McMahon ainda estivesse no comando
comecem a surgir.
Mas a renovação que a WWE atravessa não é só diretiva nem
criativa, é também logística. O RAW acabou de perder Pat McAfee até à sua
estreia na Netflix, contratando Joe Tessitore para, de certa forma, ocupar esse
vazio; o SmackDown vai emigrar para a USA Network e vai passar a ter mais uma
hora de emissão; e o NXT está de malas aviadas para a CW, algo que acontece já
a partir do dia 1.
Portanto, Giulia acaba por chegar numa altura em que a WWE
faz um “reset” à sua logística televisiva. A WWE neste momento, depois de
passar por toda uma fase de metamorfose interior, está a passar por uma de
metamorfose exterior. E isso, parecendo que não, acaba por ser benéfico para a
recém-chegada.
Se Giulia tivesse chegado ao NXT no dia 3 de Setembro, Vince
McMahon ainda fosse presidente executivo da WWE, e de repente tudo aquilo que
se sabe sobre ele fosse descoberto no dia 4, talvez esse choque fosse demasiado
grande para ela, talvez o seu futuro estivesse incerto e o seu lugar em risco.
Como a mudança acaba por ser apenas uma questão de logística, a sua adaptação
ao estilo da WWE não levará tanto tempo assim, e permitirá à Beautiful
Madness arrancar performances que tocam no seu máximo potencial.
Giulia em 2024 = Asuka em 2017-18?
Muito se tem falado e discutido sobre os planos que a WWE tem
para Giulia nesta fase inicial. Mas é impossível negar que o timing da
sua mudança é parte de um plano que já desde o momento em que assinou pela WWE
(durante o fim-de-semana da WrestleMania) parece mais ou menos óbvio. É certo
que o plano inicial nos dava conta que a sua chegada estava prevista para o NXT
Heatwave de 7 de Julho, mas o seu desejo de ajudar a lançar a MARIGOLD acabou
por estar sincronizado com uma mudança que todos esperam que a venha a colocar
como um dos principais destaques – senão mesmo o principal.
Como vos disse, a partir do dia 1 de Outubro, o NXT vai
mudar-se para a CW Network. Em consequência disso, a WWE parece querer
reestruturar o roster da sua terceira brand (Giulia já se
estreou, talvez DELTA e Stephanie Vaquer possam estrear-se nessa altura), ao
mesmo tempo que recorre ao Main Event appeal de alguns dos nomes do seu Main
Roster, como é o caso de CM Punk.
Essa reestruturação passa, pois, por ter Giulia como a
principal cara do NXT a partir daí. E como é que isso se vai fazer, perguntam
vocês? Com um combate pelo NXT Women’s Championship entre a anglo-nipo-italiana
e a atual campeã, Roxanne Perez, que já está no seu segundo reinado como campeã
feminina da brand branca e dourada, e que, já tendo feito tudo o que
tinha para fazer, deverá perder o título para a debutante.
O passo seguinte, diz-se, será replicar a streak de
Asuka em 2017-2018, que viu a Empress of Tomorrow estar imbatível
durante uns magníficos 914 dias, até à sua derrota na WrestleMania 34 para
Charlotte Flair.
Giulia tem aura para dar e vender. Mais do que aquilo que ela
é capaz de produzir em ringue (que é bastante coisa e de excelente qualidade),
a sua principal vantagem é, como falava há pouco, a forma como ela “sabe vender
o seu peixe”. O seu visual, a sua apresentação, os maneirismos… tudo isso são
áreas onde ela está, neste momento, num campeonato muito superior. E isso
agrada à WWE, que valoriza, bem sabemos, o aspeto da gimmick em
detrimento do trabalho em ringue, e daí o sucesso de nomes como Undertaker ou
Bray Wyatt junto do público.
Mas tê-la como campeã feminina do NXT logo no seu primeiro
grande combate… não vos parecerá um overpush? A mim, talvez. Giulia
ainda tem que se habituar ao estilo de wrestling que a WWE segue, e
tê-la como a principal cara da divisão feminina do NXT num período em que, para
ela, ainda é de adaptação, pode colocar em cima dos seus ombros um fardo que
ela não precisa, para já, de carregar – e nem tem necessidade disso, afinal, estamos
a falar de alguém que já conseguiu construir para si um currículo de respeito.
As críticas: O joelho acertou ou não
acertou?
Claro que os primeiros passos de Giulia no NXT não se fizeram
sem que houvesse polémica. Mas também, convenhamos: Uma chegada completamente
pacífica de um wrestler a uma nova empresa não tinha piada nenhuma.
Giulia estreou-se na programação semanal do NXT interrompendo
uma promo entre Chelsea Green e a campeã Roxanne Perez, e dando a
Chelsea um excelente cartão de apresentação: Um forearm smash seguido de
um V-Trigger. E é aqui que começa a polémica porque, no entender de
muitos, o joelho de Giulia não acertou no queixo de Chelsea na altura do golpe.
Rapidamente vimos os fãs embarcarem em mais uma quezília,
como de resto já vem sendo hábito: Afinal, o joelho acertou ou não acertou?
Objetivamente, não vos vou dar uma resposta. Vou antes
apontar uma série de incongruências que, parece-me a mim, a malta está a
ignorar olimpicamente. E quem me dera não estar a fazer isto, seria bom sinal.
Primeiro: Um dos pontos focais do wrestling não é só a
segurança do wrestler que aplica a move, senão também, ou mais
ainda até, de quem a recebe. Se Giulia tivesse acertado com o V-Trigger onde
muitos queriam que ela acertasse, Chelsea Green sairia daquele ringue com o
nariz partido e sobre a estreante cairiam acusações de imprudência, que a
poderiam colocar em risco.
Segundo: O ângulo da câmara na altura de filmar o golpe
acabou por estragar (quase) tudo. Aproximadamente um dia depois do sucedido, a
WWE acabou por fazer upload no X de um novo vídeo, mais curto,
com o segmento, onde mudou o ângulo para uma perspetiva a partir das costas de
Chelsea Green e aí sim, dá para ver que o joelho acertou.
MESSAGE. SENT.
— WWE NXT (@WWENXT) September 5, 2024
As @ImChelseaGreen learned, Giulia is about that action! 😤 @giulia0221g #WWENXT pic.twitter.com/R52zzL5dQv
Terceiro: Olhem só!! Uma wrestler que se estreou numa brand que tem por objetivo adaptar os wrestlers à nova realidade está a… adaptar-se. Malta, eu juro que nunca tinha visto nada assim!!
Moral da história? Parece-me que as críticas feitas a Giulia pelo seu desempenho
naquele segmento não fazem qualquer sentido, na minha opinião. Há todo um
discurso enviesado pelo facto do ângulo com que o segmento foi filmado não ter
sido o melhor. Ainda assim, que tal darem um tempo para que ela se possa
verdadeiramente adaptar? É uma solução que pode vir a resultar, sei lá…
E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”!! Não
se esqueçam de passar pelo nosso site, redes sociais, deixem a vossa opinião aí
em baixo… as macacadas do costume. Para a semana cá estarei com mais um
artigo!!
Peace and love, até ao próximo Sábado!!