Lucas Headquarters #172 – Vou Pedir Ao Pai Natal
Ora então boas tardes, meus queridos pais e mães Natal!! Como
estão? Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no
WrestlingNotícias, a penúltima entrada do ano e a última antes de mais um
Natal!!
Ora bem, para esta edição, prometo (tentar) não tomar muito do vosso tempo, porque a aproximação às comemorações natalícias a isso obriga (vamos ser sinceros, nem eu nem vocês temos paciência para grandes larachas quando a nossa cabeça já está no convívio familiar, nas azevias e nos presentes).
A juntar a
isto, é bem possível que a edição desta semana seja um bocadinho diferente
daquilo a que eu estou habituado a escrever (e vocês a ler) precisamente por
essa razão. É bem possível que me apanhem a divagar ainda mais do que o costume
nesta edição, porque esta é aquela edição onde não me basta a mim, enquanto fã,
olhar para o que se passa à minha volta, ou tecer uma apreciação crítica sobre
aquilo que acontece: Nesta edição, mais do que em todas as outras, eu tenho de
olhar para mim mesmo.
Outra das razões pelas quais a entrada desta semana vai ser
substancialmente diferente de todas as outras tem a ver com aquilo que temos
feito neste espaço sempre que chega a quadra natalícia.
Se bem se lembram, nos últimos dois anos, eu tenho recordado
com vocês vários momentos icónicos (e ao mesmo tempo hilariantes) que se têm
passado no mundo do wrestling (com maior predominância na WWE e na WCW)
e que nos remetem para o espírito natalício.
Acontece que, consequência natural de nem todas as edições
caírem exatamente na véspera, no dia ou naqueles três a quatro dias que
antecedem o tão aguardado 25 de Dezembro, não há uma quantidade assim tão
diversa de momentos em que o wrestling e o Natal se misturam. E desde
que Triple H assumiu as rédeas criativas da WWE que a probabilidade de vermos
esses momentos nas nossas televisões tende a diminuir (e muito bem), porque os
últimos dois shows do ano são gravados com antecedência para permitir
aos wrestlers passar o Natal e o Ano Novo com os seus entes queridos.
Por essa razão, quando chegamos a esta altura, mais nada nos
resta senão fazer uma espécie de “autoanálise”. É um processo que às vezes
custa, mas que é necessário, até no wrestling. No entanto, custa porque
não será difícil constatar que, estar aqui com toda esta lábia é uma perda de
tempo, porque o nosso comportamento, a nossa postura (mais ou menos crítica)
enquanto fãs de wrestling é, ao fim e ao cabo, parte da nossa
personalidade. Muito dificilmente vamos conseguir mudar isso, porque mais do
que personalidade, a nossa postura já está enraizada numa certa mentalidade
coletiva, e como sabemos, as mentalidades são a parte do ser humano que é mais
difícil de mudar.
E agora, muitos de vocês devem estar a perguntar-se “Tio
Alex, o que é que vais pedir ao Pai Natal?”.
Começando pela autoanálise, diria que lhe vou pedir mais
clarividência. Esta é uma armadilha na qual, enquanto escritor de artigos
de opinião semanal, é muito fácil cair.
Nós somos humanos, temos paixões, emoções, reagimos aos mais
variados estímulos de forma diferente. E com o wrestling não é exceção.
Há wrestlers que nos chamam mais a atenção (por toda
uma conjugação de fatores) e há empresas que nos cativam mais, seja pelo
produto que apresentam ou pela forma como o apresentam (e atenção que uma coisa
nem sempre implica a outra).
Como tal, há uma enorme falta de clarividência na altura de analisar o que está bem e o que está mal. Muitas vezes, criticamos o produto de uma certa empresa simplesmente porque estamos constantemente a achar que somos nós, quem escreve e quem fala, que percebemos disto, e não os antigos wrestlers que passaram trinta ou quarenta anos da sua vida num ringue, e que por isso conhecem as dinâmicas do negócio melhor do que nós, dando, não raras vezes, a cara pelos bilionários depravados que fundam as empresas que lhe dão corpo.
Eu próprio não fujo à regra: Os meus artigos têm, não raras
vezes, a mensagem subliminar do “vejo wrestling há 17 anos, portanto já ando
nisto há tempo suficiente para saber como as coisas funcionam. Vejam o quão
entendido eu sou nisto e partilhem o artigo de forma a mostrar que estou
certo!” e isso é uma das coisas que quero mudar. Quero ser o mais imparcial
possível nas análises, quero ter a capacidade de equilibrar os dois lados da
balança para depois, aí sim, emitir um juízo consciente e fundamentado.
Falando de bilionários que dão a cara pelas empresas, o que eu gostava de pedir ao Pai Natal era, também, um melhor booking, tanto na AEW como na WWE.
Na AEW, o problema mais evidente é o facto da qualidade dos
shows semanais ser substancialmente inferior à dos PPV’s, o que tem
origem numa série de problemas (que já falei aqui muitas vezes) desde a
sobrelotação do roster, passando por alguma aleatoriedade de quem tem
muita qualidade à disposição, mas não sabe o que fazer com ela. Para além de
Will Ospreay e dos Death Riders, muito raramente mais alguém tem tido assim
tanto tempo de antena a nível semanal; o booking da Kamille como
guarda-costas de Mercedes Moné deu poucos ou nenhuns frutos… Há ali muito para-arranca
da parte de Tony Khan, na medida em que as novas chegadas à empresa são
apresentadas com um grande hype que já se desvaneceu passado um par de
semanas.
No caso da WWE, o desejo de melhor booking estende-se, sobretudo, às feuds. Dando como exemplo a feud entre Rhea Ripley e Liv Morgan, esta concentra vários problemas que refletem o quão desesperadamente o booking precisa de ser melhorado: Para além de já se arrastar há vários meses (sem que, com isso, a feud se tenha desenvolvido em direção ao seu climax), há uma das partes que está claramente a sofrer com isso.
A própria Rhea vem de uma storyline onde nem todos a
vêm como a babyface injustiçada que tenta fazer justiça depois de uma
traição, e isto até seria um mal menor se a Mami não continuasse a ser
apresentada como aquela sociopata imparável que não quer saber de nada nem de
ninguém e quer apenas tirar o título das mãos de Liv. Numa altura onde todos os
heels têm razões válidas para o ser (Kevin Owens, DIY, Drew McIntyre),
ter uma personagem tão “plana” e tão superficial como aquela que a Rhea tem de
momento é uma valente contraprodução.
Isto acaba por afetar também a própria Liv, na medida em que
esta feud demasiado longa que está a ter com a Rhea impediu a criação de
novas potenciais desafiadoras ao título, fazendo com que o seu reinado fique
apenas marcado por esta feud, o que acaba por lhe tirar algum brilho. Infelizmente,
não me parece que as coisas melhorem, porque ou muito me engano, ou a Rhea vai
ganhar novamente o Royal Rumble para arrumar de vez a feud na
WrestleMania…
A terceira coisa que gostava de pedir ao Pai Natal é, sem
dúvida, menos tribalismo. E isto é algo que vem com a parte da maior
clarividência (cuja falta dá origem a este problema) mas não é preciso ser-se
pouco clarividente para se ser tribalista. Na verdade, há opiniões tribalistas
muito bem disfarçadas, há pontos de vista tendenciosos que se escondem por
detrás de palavras caras e bonitas.
Este pedido, infelizmente, é um pedido um bocadinho “envenenado”,
porque embora esteja aqui a pedir e a advocar, mais uma vez, pelo fim dessa
praga que vai lentamente matando o wrestling e que nos impede de
apreciá-lo em todo o seu esplendor, também sei que isso é algo que é impossível
de ser totalmente erradicado. Enquanto houver paixão à volta desta indústria,
enquanto houver quem lhe dê dinheiro assistindo aos shows ao vivo e a
cores, comprando o merch… vão sempre existir opiniões.
E lá está, nós somos humanos, e como disse há bocadinho, temos
paixões, desejos, diferentes formas de olhar para um mesmo produto. É a nossa
natureza, e é isso que nos distingue de todos os outros seres vivos e nos torna
tão singulares. Portanto, a única coisa que posso desejar, não podendo
erradicar esse problema, é que ele diminua; que as pessoas passem a apreciar o wrestling
mais por aquilo que ele é do que pelas suas preferências; e que quem apenas
vê ou acompanha a WWE ou a AEW não é menos fã de wrestling por comparação
a quem, felizmente, consegue ter um bocadinho do seu tempo para chegar a tudo.
Por falar em desejos, o desejo que tenho para todos vocês é que passem um
Natal cheio de amor e carinho, rodeados por todos aqueles que são parte
importante da vossa vida e vos querem bem. Tentem sempre ser um bocadinho
melhores do que foram até aqui e lembrem-se que Natal não é só nos dias 24 e 25
de Dezembro… hoje, mais do que nunca, o Natal tem de ser todos os dias e o seu
espírito tem de estar presente em todos nós.
E é com este epílogo de Natal dos Hospitais que me despeço por esta semana. A todos os companheiros de site que fazem das tripas coração para que todas as notícias e shows continuem a chegar ao nosso público, mas sobretudo a vocês, que leem as noticias, os artigos, veem os shows e continuam a dar-nos razão de existir, um Santo e Feliz Natal!!