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Lucas Headquarters #179 – Brincar aos Royal Rumbles


Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Bem-vindos sejam a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!! E pronto, chegámos àquela altura que, para muitos fãs de wrestling (e da WWE em particular) parece o Natal. Portanto vá, alinhem-se todos, os mais altos à frente, os mais pequenos atrás, e um, e dois, e três:


“IT’S THE MOST WONDERFUL TIME OF THE YEEEEEEEEEAAAAARRRRR”


Quê? O Natal não é quando o Homem quiser? Não nasce alguém todo o santo dia? Então não vejo o porquê de não me deixarem cantar esta música.


Agora mais a sério, começou a Road To WrestleMania. Mas, tal como sucedeu há um ano atrás, a Road to WrestleMania não podia ter começado sem um leve travozinho a escandaleira – tanto literal como figurativa.


Da parte literal, surgiram as notícias de que Janel Grant finalmente mencionou o nome de Brock Lesnar no escândalo – um dos muitos graves escândalos – que implica Vince McMahon. E se, antes disto, ainda havia dúvidas sobre o futuro da “Besta” dentro da WWE, neste momento acho que é mais do que seguro dizer que elas se desfizeram, e que, a não ser que ocorra um grande plot twist capaz de fazer o ex-chefão da WWE parecer um santinho (como se isso fosse possível), a sua carreira chegou ao fim. Esta é a parte literal da coisa.


A parte figurativa tem a ver com o Royal Rumble – tanto o evento como os combates.



Já vou desenvolver esse ponto, mas antes, e para contexto, deixem que vos diga o seguinte: A Road To WrestleMania, para os fãs de wrestling em geral (e da WWE em particular) é um tempo de expectativa. De crescente alegria. Diria até – e retirando toda e qualquer conotação sexual que possa estar associada a este termo – que a Road to WrestleMania é um tempo de excitação.


Porque de repente, são tomadas decisões. E normalmente nunca são decisões que nos aparecem muito em cima da hora (salvo imprevistos fora do controlo da WWE) mas sim que começam a ganhar forma ali por volta do final do ano civil (finais de Dezembro, na pior das hipóteses, inícios de Janeiro).



Há anos em que nós chegamos ao Royal Rumble sem saber quem é que vai ganhar, há anos em que o desenrolar das coisas é tão óbvio que nem nos damos ao trabalho de formular muitas hipóteses. E depois há aqueles anos em que a WWE nos engana completamente, em que nos pregam uma partida tão bem engendrada que nem o miúdo mais malcomportado da escola se lembra de o fazer.


Normalmente, as minhas expectativas para a Road To WrestleMania – e para o evento em si – são sempre altas, porque a WrestleMania é o clímax do ano para a WWE. É ali que um ano de trabalho acaba e que o novo ano começa. Portanto, mais não seja naquela noite, a WWE tem de mostrar o que vale, tem de organizar as coisas de modo a que toda a gente saia a ganhar: Patrocinadores, talentos, mas sobretudo o público.


Este ano, e depois de ter visto tudo aquilo que se passou no Sábado, eu não sinto nada disso. Não sinto que a WWE queira ser arrojada do ponto de vista dos planos que faz, pelo menos em parte. Não sinto que a WWE queira ser poética naquilo que é o entendimento daquilo que o público deseja ver – e vou aludir a isto daqui a uns parágrafos.


Um dos principais defeitos apontados ao Triple H é que, no que diz respeito aos shows semanais, ele consegue superar-se constantemente, mas, quando chega a hora da verdade e de criar um clímax nas storylines para contar em PLE, ele espalha-se ao comprido uma e outra vez. 


Com Tony Khan acontece, muitas vezes, o contrário: Deixa a desejar nos shows semanais, e chega aos PPV e entrega tudo. E agora, uma opinião impopular, que vai deixar muita gente a esfregar o queixo: À exceção daquilo que tem sido o booking do Jeff Jarrett e do pouco tempo para a divisão feminina, eu até acho que, neste início de ano, a AEW não tem estado assim tão mal como muitos preconizam. No último terço do ano que passou foi bem pior, mas isto vale o que vale.



Um exemplo desta abordagem pouco ousada de Triple H pode ser, por exemplo, o Money In The Bank do ano passado. Tinha tudo para ser um PPV em grande, se o The Game tivesse sabido cavalgar as ondas do momento. Mas não foi. Desperdiçou-se a maleta masculina numa feud, quando toda a gente via em Jey Uso um melhor candidato a vencer. Damian vs Finn foi um desastre ao nível do booking. Como Main Event, um combate que, na melhor das hipóteses, teria sido Main Event… do SmackDown.




Meio ano passou desde então e vemos que Triple H utilizou exatamente a mesma abordagem. Fazendo de advogado do Diabo – e correndo o risco de entrar em contradição – é muito difícil bookar um Royal Rumble, mais do que qualquer outro evento. Porque o Royal Rumble tem associado a si o fator surpresa, e dentro do fator surpresa existem outras “variantes”: Retornos das lendas, retornos de wrestlers que estiveram muito tempo fora (por variadíssimas razões), wrestlers do NXT, etc.


O problema é que esta abordagem cautelosa foi transversal, tendo atingido tanto o Royal Rumble Feminino como o Masculino, e tendo sido complementada com uma mão cheia de atrapalhações e erros que puseram o Royal Rumble deste ano no mesmo nível do desastre que foi o Royal Rumble em 2021.


Erro #1 – Previsibilidade






O primeiro erro dos Royal Rumbles foi a previsibilidade das suas entradas. E isto diz mais respeito ao masculino do que ao feminino, afinal do lado das mulheres ainda houve tempo para os regressos de Jordynne Grace, Alexa Bliss e Nikki Bella, pelo que ainda houve um je-ne-sais-quoi de surpresa associado, sobretudo na segunda metade do combate.

No entanto, a primeira metade foi, toda ela… insossa, à falta de melhor expressão. A começar logo pelo início. IYO SKY, que seria sempre favorita a ganhar um Rumble por aquilo que tem feito sobretudo desde há quase dois anos (quando se tornou Miss Money In The Bank), entrou como #1. Liv Morgan, que nos últimos quatro anos fez parte das final four, entrou a #2.

No masculino, o maior destaque vai para o escocês Joe Hendry, o atual TNA World Champion, que entrou exatamente a meio (#15) e durou apenas… três minutos e meio, até ser eliminado por Roman Reigns. Lá se foi o pop e o estatuto que carrega consigo…


Erro #2 – Uma obsessão chamada Logan Paul



Eu sei, eu sei. Parceria com a Prime. Eu sei, eu sei, fama e fortuna. Eu sei, eu sei, putos de doze ou treze anos a ver WWE só porque o Logan Paul está lá, e todas as possíveis desculpas que possamos arranjar para uma asneira destas.


Logan Paul é talvez o melhor celebrity turned wrestler a ter posto os pés num ringue (e olhem que, nos últimos anos, desde Stephen Amell até Bad Bunny, já muitos tentaram a sua sorte, mas nem o músico portorriquenho se deu tão bem, isto apesar do excelente combate contra Damian Priest no Backlash há quase dois anos. Logan Paul já fez, até, muito mais do que esses dois em termos práticos, visto que já tem um reinado como United States Championship no currículo (que foi péssimo, não nos esqueçamos). O seu a seu dono.


No entanto, eu não sei se a WWE percebeu a razão pela qual os fãs vaiam Logan Paul. Não é porque ele seja um mau wrestler a nível técnico (muito longe disso, vejam os combates dele com o Miz (Summerslam 2022), Roman Reigns (Crown Jewel 2022) ou com o Ricochet (Summerslam 2023), não é porque ele seja um heel fora de série (que não é, quanto muito aproveita-se do seu estatuto enquanto celebridade para alavancar), mas é, simplesmente, pelo que se passa fora do ringue.





Logan Paul, enquanto personalidade da internet, é uma pessoa… questionável, para ser simpático. O seu currículo está cheio de situações insólitas, bem como das mais variadas polémicas. É verdade que tudo isto está condicionado pelos incidentes que sofreu enquanto jogava futebol americano (e que lhe provocaram danos cerebrais que afetam a sua perceção das relações humanas), mas o público que viu o combate não estava, nem está, nem nunca estará obrigado a saber desse detalhe. A menos que seja um caso muito específico devidamente anunciado (como, por exemplo, a leucemia que afeta Roman Reigns), o público geralmente deixa esses pequenos detalhes à porta das arenas.


Como se isso não bastasse, este Rumble estava cheio de wrestlers com star power muito mais orgânico do que o seu. CM Punk, John Cena (no seu último ano de carreira), Seth Rollins, até Jey Uso. Wrestlers que levam décadas no ramo, com currículos já a roçar o lendário, e que marcaram e inspiraram gerações. Logan Paul, à vista destes, teve… três combates bons. Colocá-lo a entrar a #30 e deixá-lo para os três finais é quase uma grave heresia.


Erro #3 – Os vencedores



Este ponto é perpetuamente controverso. Não importa os anos, não importa quem ganha, uma boa fatia da comunidade vai sempre insurgir-se contra os vencedores e outra boa fatia vai apoiar, bater palmas e dizer que foi a decisão correta. Assim foi, por exemplo, em 2014, quando o Batista ganhou o Rumble numa altura em que estávamos no pico da popularidade do Daniel Bryan. Ou no ano seguinte, quando o vencedor foi Roman Reigns, ajudado por The Rock, e brindado com um coro de vaias do público, que não gostou nem um pouco da forma como o combate acabou. Em 2019, quando a Becky Lynch, no pico da sua popularidade, se juntou a Seth Rollins como vencedora de um Royal Rumble, também houve gente a protestar… enfim, a lista é longa.


A questão é que, no caso dos Rumbles deste ano, a WWE atirou ao lado relativamente aos vencedores. Começando pelo feminino, a empresa voltou a dar toda a razão aos fãs no porquê do constante repúdio dirigido a Charlotte Flair nos últimos anos, acrescentando uma vitória desnecessária ao seu já longo currículo de vitórias desnecessárias. “Ah, mas havia poucos nomes suficientemente “fortes” a quem a WWE pudesse dar a vitória!”. Será que havia?


Então e a Iyo Sky, que tem tido constantemente destaque desde que há dois anos venceu o Money In The Bank Ladder Match feminino e se tornou WWE Women’s Champion um mês depois?


Então e a Liv Morgan, que esteve entre as últimas quatro participantes nos últimos dois Royal Rumbles, e ainda por cima tem carregado a divisão feminina do RAW ao lado da Rhea Ripley?


Já que o objetivo era ter a primeira wrestler a vencer o Royal Rumble por duas vezes, porque não repetir a façanha com a Bayley?




A impressão que me dá no meio disto tudo é que a WWE está com medo de profanar o apelido “Flair”. E se, ao menos, Ric Flair fez por merecer tudo aquilo que conquistou, Charlotte nunca teve oportunidade de demonstrar, sequer, argumentos nessa direção – possivelmente porque, em metade dos casos, lhe deram tudo numa bandeja. Não há exemplo mais flagrante do que este: Charlotte estreou-se no Main Roster em Julho de 2015, e ganhou o primeiro título passados… três meses. Sasha Banks (nka Mercedes Moné) e Becky Lynch, suas congéneres, tiveram que esperar nove meses para ter essa oportunidade – a tal triple threat na WrestleMania 32 – e depois disso, tiveram de esperar mais de um ano para ter oportunidades pelo ouro.



Para além disso, o booking da Queen caiu numa assustadora previsibilidade, resumida na seguinte sequência: Conquista uma oportunidade pelo título -> Vence o título -> Faz poucas defesas do título -> Perde o título -> Lesiona-se -> Regressa num grande evento, e o ciclo repete-se. 


Este forçar da Charlotte pela garganta das massas abaixo é exatamente o que já aconteceu com John Cena e com Roman Reigns – e é a mesma razão pela qual, estando perante dois dos melhores wrestlers de sempre, estes nunca foram nem nunca serão consensuais. Charlotte Flair tem 39 anos. Vai entrar na curva descendente da sua carreira daqui a mais dois ou três. A WWE tinha tudo para a fazer entrar nessa fase com os fãs a levá-la pelos ombros. Assim, arrisca-se a que ela própria seja repudiada cada vez que entrar numa arena, isto já mesmo depois de ter pendurado as botas e recebido os justos reconhecimentos pela extraordinária carreira que fez.


O caso de Jey Uso é um caso diferente. Ao contrário de Charlotte, que foi colocada no mesmo pedestal do pai, Jey Uso teve de trabalhar. Teve de sair da sombra do nome Anoa’i. Teve de aproveitar a ausência do irmão nos inícios da Bloodline, e, anos mais tarde, capitalizar positivamente o seu regresso. E o trabalho deu frutos: Jey Uso tornou-se numa máquina de vendas e, apesar das limitações em ringue, possui um inigualável carisma. Só que este Rumble nunca deveria ter sido o dele.



A WWE entra em 2025 com John Cena a fazer a sua tour de despedida e CM Punk a ter finalmente a hipótese de conquistar, talvez, a única coisa que lhe falta. Existiria aqui a hipótese de termos um candidato a combate do ano entre John Cena e Cody Rhodes, com Cena a conquistar o histórico décimo sétimo título mundial e Cody Rhodes, talvez, a consumar um heel turn do qual, na ótica de muitos, tem vindo a dar sinais subtis.



E depois… a WWE coloca Jey Uso vs Gunther no Saturday Night Main Event e não lhe dá logo o título, sendo o plano que Jey chegue em altas até à WrestleMania? Coloca CM Punk a dar hype a uma possível vitória sua no Royal Rumble (confrontando Cody Rhodes no RAW e Kevin Owens no SmackDown antes do PLE) e não capitaliza?




A vitória de Jey Uso é perfeitamente compreensível do ponto de vista do dinheiro que este lhes pode dar, mas, por outro lado, e desperdiçar mil oportunidades diferentes de fazer história com nomes que ou querem reescrevê-la, ou estão prestes a terminá-la. O lado positivo disto tudo é que se cumpriu uma ínfima parte daquilo que tem sido, durante anos, uma das principais falhas apontadas à WWE: Criou-se, definitivamente, uma nova estrela.





E vocês, o que acharam do Royal Rumble deste ano? Concordam com os vencedores? O que teriam mudado nos dois combates?


E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”! Não se esqueçam de passar pelo site, pelas redes sociais, deixem a vossa opinião aí em baixo… o costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!


Peace and love, até ao meu regresso!!

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