Lucas Headquarters #180 – Toni Storm vs Mariah May: Timeless Tale of Glamour
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão?
Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no
WrestlingNotícias!! Que tal foi o vosso dia dos Namorados? O que é que
ofereceram as vossas caras-metades? Quanto tempo é que duraram sem discutir?
Trinta segundos, aposto…
Hoje vou fazer uma coisa que já não faço há algum tempo
(provavelmente desde Dezembro de 2023 que não me ocorre fazer algo semelhante),
que é contar a história de uma feud. E
desde já peço desculpa por estar a mentir, mas aquilo que recapitulámos nessa
altura nem foi bem uma feud, foi
antes um combate (um bom combate, por sinal) que aconteceu fruto de
imprevisíveis circunstâncias e de uma crise de lesões que, espero, tenha
deixado algumas lições para serem aprendidas (e para quem não se recorda, o
combate em questão opôs Suzu Suzuki, vencedora do 5-STAR GP de 2023, a Maika,
finalista vencida dessa mesma edição do torneio, por um World of STARDOM
Championship que estava vago devido à lesão da então campeã, Tam Nakano.
Como dizia, contar-vos a história de uma feud é uma coisa que já não faço há algum tempo, mas é uma das
coisas que me dá mais prazer a fazer. Não é que eu queira parecer um suprassumo
do wrestling quando escrevo um artigo
desse tipo (porque não o sou, e porque isso não existe. Wrestling é um desporto, para outros uma arte, e como acontece com
todos os desportos e com todas as artes, opiniões e gostos são extremamente
subjetivos), mas porque há numa feud uma
dinâmica que é quase sempre a mesma, mas que nem por isso deixa de ser
interessante.
Numa feud, nós
temos muito mais do que dois wrestlers
em confronto. Nós temos muito mais do que uma representação over-the-top do herói contra uma
representação over-the-top do vilão
(e ainda há os anti-heróis…).
Numa feud nós
temos, quase sempre, um wrestler mais
jovem (ou mais inexperiente dentro da dinâmica da empresa que representa)
contra um que pode não ser necessariamente mais velho, mas que já está na
empresa há mais tempo, já conseguiu construir o seu percurso – que o levou, não
raras vezes, aos títulos – e que por isso não quer, passo a expressão, “largar
o osso”. E essa é a premissa principal, e também a mais utilizada.
Mas também há uma dinâmica engraçada que, no caso desta feud, já deu para reparar (pelo menos
para quem a acompanha mais ou menos desde o início). E eu nem devia dizer isto,
porque isto é uma verdade de La Palice, e é natural que, de anos a anos, isto
se repita (porque os artifícios para criar histórias para o wrestling também se vão acabando, é uma
coisa natural). Mas, muitas vezes, as histórias contadas nas feuds acabam por repetir-se.
Para o caso desta feud,
vou dar-vos um exemplo do qual muitos de vocês de certeza que se lembram.
Vamos recuar 20 anos no tempo, quando o wrestling feminino na América não tinha nem metade da expressão que hoje tem. Em 2005, estava Trish Stratus a meio de um reinado como WWE Women’s Champion, quando chegou à WWE uma jovem wrestler chamada Mickie James, que na altura dizia ser a maior fã da campeã.
Elas foram competindo juntas em combates (sobretudo tags) e a obsessão de Mickie para com
Trish foi crescendo, e foi crescendo, e foi crescendo… até que Mickie deixou de
ser fã e passou a ser uma stalker,
uma fanática. A coisa estava a resultar tão bem, que na altura do Natal
resolveram dar um twist lésbico à
coisa (algo que em 2005 era quase impensável) e James beijou Stratus por baixo
do azevinho, um típico costume romântico da época natalícia. Isto semanas
depois de James ter vencido Victoria num #1
Contenders match para determinar a desafiante ao título de Stratus no New
Year’s Revolution. No combate pelo título, Mickie James perdeu, mas isso em
nada alterou o seu sentimento em relação à campeã.
Como é óbvio, tudo o que é demais enjoa, e Trish começou a
ficar desconfortável com toda aquela adulação. Disse-lhe que precisavam de um
tempo separadas, algo que não deve ter caído muito bem em Mickie, que
descarregou todas as suas frustrações na Ashley, com quem teve uma mini-feud, que culminou num combate
entre ambas no Royal Rumble de 2006, que teve Trish como special guest referee, e que Mickie James venceu, confessando
depois a Stratus o que sentia.
No Saturday Night’s Main Event de Março de 2006, Mickie James
e Trish Stratus competiram num Tag Team contra Victoria e Candice Michelle, com
James a concordar em respeitar os desejos de Stratus. No final do combate,
James tentou beijar Stratus, foi rejeitada e atacou-a, o que levou ao combate
entre ambas na WrestleMania XXII com o título em jogo, que Mickie James venceu.
Porque é que eu contei, em traços muito gerais, a história da
feud entre Mickie e Trish? Porque,
mais uma vez, os mecanismos das histórias, a base, se assim quisermos,
repete-se. É claro que, no caso desta feud,
nem tudo é igual, há uma complexidade muito maior, sobretudo a que vimos nestas
últimas semanas. Mas, tanto no caso de Mickie e Trish como no de Toni Storm e Mariah May, a base está
lá.
Toni Storm e Mariah May: Almas gémeas do
wrestling com
muito em comum
A ideia de
pôr Toni Storm e Mariah May juntas numa storyline
não aparece apenas porque Mariah May, quando chegou à AEW vinda de uma
temporada no Japão, já tinha um enorme potencial. Eu acredito que a principal
razão pela qual a AEW quis juntar a Timeless
e a Glamour tem a ver com o facto
de elas terem muito mais em comum do que, à primeira vista, se possa pensar.
Para
começar, ambas deram os primeiros passos no wrestling
pouco depois dos vinte anos. Aos 21 anos, Toni Storm assinava pela STARDOM,
e nos dois anos em que esteve na empresa construiu um currículo de respeito,
que a havia de levar à WWE: Não só venceu os dois principais torneios da
empresa (o Cinderella Tournament e o 5-STAR GP) como foi World of STARDOM
Champion e, ainda, SWA Champion.
O mesmo acontece com Mariah May. A wrestler britânica estreou-se nos ringues em 2019, e em 2022, com
apenas três anos de experiência em ringue, estreou-se na STARDOM, precisamente
a mesma empresa onde a sua futura rival havia ganho um grande capital de
notoriedade. Foi discípula de Mina
Shirakawa, com quem conquistou o Goddess of STARDOM Championship, o ponto
alto da sua estadia no Japão.
Não se pode comparar a dimensão da run que Toni Storm teve na STARDOM por comparação à run que Mariah May teve na empresa, mais não seja porque, apesar da estadia de Storm ter sido muito maior em termos de tempo (esteve no Japão cerca de dois anos), o seu sucesso foi também ditado pelas circunstâncias.
Prova disso é a forma imprevista como Storm se tornou World of STARDOM Champion. Mayu Iwatani, a campeã da altura, lesionou-se durante o combate, obrigando o árbitro a parar a ação e a coroar Storm como campeã, num reinado que durou 258 dias. Ambos os casos parecem ter um common ground, na medida em que eram apenas passagens para ganhar experiência. A diferença é que Toni Storm foi obrigada a elevar o nível e a ir para além disso; Mariah May não teve essa preocupação – e acabou por resultar igualmente bem.
A chegada de Mariah May à AEW, a mentoria de
Toni Storm e o triângulo amoroso com Mina
Shirakawa
Em finais de
2023, Mariah May foi anunciada como sendo a nova contratação da AEW, um passo
que muitos fãs já se tinham apercebido que estava prestes a dar. A decisão de a
colocar ao lado de Toni Storm foi quase imediata e resultou em cheio, não
apenas pela forma como Mariah abraçou a sua faceta de discípula de Toni
(manifestada nos largos meses em que apareceu na TV com a gimmick anterior da sua mentora) como também pela reação do próprio
público, que reagiu positivamente a tudo aquilo, pese embora ambas desempenharem
o papel de heels.
Os primeiros sinais de um heel turn por parte de Mariah May apareceram quando esta se viu no meio de um “triângulo amoroso” em que Toni Storm e Mina Shirakawa competiam pelo seu carinho e afeto. Numa storyline que corria o risco de não ter o impacto desejado pelo facto de a escolha parecer óbvia (pelo passado que une Mariah May e Mina Shirakawa) a AEW deu a volta ao assunto: Storm venceu Shirakawa no último Forbidden Door, com Mariah May a conseguir reconciliar as duas. Estava preparado algo maior.
Enter The Glamour: Conquista do título e
o confronto com Mina Shirakawa
E com isto
chegamos a um dos melhores momentos da carreira de Mariah e um dos segmentos
mais bem executados dos últimos anos: Mariah May venceu Willow Nightingale na
final do Owen Hart Foundation Tournament e levou para casa não apenas o troféu,
mas um combate pelo título contra Toni Storm. Imediatamente após a vitória,
Mariah May atacou Toni Storm com um sapato de salto alto, deixando a cara da Timeless toda coberta de sangue e dando
o primeiro passo para vencer o título no All In.
Depois da vitória, Mariah May tentou reencontrar-se com Mina Shirakawa, de forma a que pudesse celebrar a sua conquista com a sua primeira mentora, algo que aconteceu em Novembro, num episódio do Collision onde Mariah defendeu o título contra Anna Jay. Uma semana depois, teve lugar a celebração, onde Mariah tentou atacar Shirakawa, sem sucesso. Após um violento confronto entre ambas, Mariah e Mina enfrentaram-se pelo título, num combate que Mariah venceu e onde foi interrompida logo após pelo regresso de Toni Storm… em modo rockstar.
What makes
you think our dance is done?
O regresso de Toni na sua antiga gimmick foi algo que teve tanto de engraçado como de inesperado.
Toda a gente sabia que devia estar para acontecer algum plot twist, mas ninguém queria deixar de reviver os tempos em que
Toni Storm aparecera no ringue pelas primeiras vezes na carreira.
No Dynamite: Maximum
Carnage de 15 de Janeiro, Toni Storm tornou-se a #1 Contender pelo título
ao vencer a Casino Gauntlet para esse
efeito, fazendo o pin em Julia Hart. No Collision: Homecoming de dia 25 de
Janeiro, Toni surpreendeu Mariah May ao revelar que as seis semanas que passou
na pele de rockstar eram, afinal, uma
mentira, e que nunca tinha deixado de ser Timeless,
despindo todas as roupas da sua anterior gimmick e revelando a sua verdadeira face.
Toni Storm vs Mariah May: Será que acaba aqui?
E é nesta
conjuntura que chegamos ao combate no Grand
Slam Australia, que representa o clímax de uma das melhores rivalidades no wrestling feminino desde aquela que opôs
Giulia e Syuri pelo World of STARDOM Championship em 2022. A pergunta que se
impõe fazer é: Será que a feud termina aqui?
Eu acredito
que a feud termina aqui, já que
a revelação da rockstar Toni como
sendo apenas uma espécie de armadilha representa, em grande parte, o climax de
uma feud entre dois dos nomes mais populares do wrestling atual.
Toni Storm merece todo o crédito pela forma
brilhante como se reinventou como Timeless
e da forma como tem encarnado essa gimmick.
Mariah May também é merecedora das suas flores,
porque o seu reinado tem sido globalmente positivo e tem contribuído para a sua
afirmação como um grande nome numa divisão feminina onde às vezes falta maior e
melhor aproveitamento.
E vocês, que
opinião têm sobre a feud entre Toni
Storm e Mariah May? Acham que terminou depois do combate de hoje?
E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”! Não
se esqueçam de passar pelo site, pelas redes sociais, deixem a vossa opinião aí
em baixo… o costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!!