Lucas Headquarters #184 – Pode um mau Main Event estragar um bom PPV?: O caso de Cope vs Moxley
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão?
Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no
WrestlingNotícias!! Que grande chuvada caiu sobre este nosso país na última
semana (e, pelos vistos, ainda muita chuva está por cair…).
Curioso que, no nosso pequeno grande mundo do wrestling,
também caiu uma chuva, é verdade. E não se preocupem, esta chuva é tão
bem-vinda como a de água, ou não fosse ela uma chuva de bons combates!! Mais um
Sareee-ISM, mais um Revolution… e mais uma vez em que a AEW resolveu não nos
desapontar com um PPV de grande qualidade que nos deu excelentes combates.
Alguns deles, candidatos a combates do ano; outros, candidatos a combates da
década; e outros, mais raros ainda, candidatos a combates do século.
Antes de me concentrar naquele que será o tema central deste
artigo, quero fazer uma coisa que tenho a certeza que já fiz muitas vezes, mas
em off, ou então, de forma muito subtil, na edição 180 deste artigo
(onde fiz uma revisãozinha na feud que ambas tiveram e que foi um dos
pontos fortes da AEW nos últimos meses): Quero dar um merecido louvor àquele
que foi um dos grandes combates do Revolution (arriscar-me-ia a dizer, talvez,
que foi um dos três melhores combates do evento): Mariah May vs Toni Storm: The
Hollywood Ending.
E quero dar um merecido louvor a este combate porque uma das
grandes críticas que têm sido feitas à AEW é precisamente o pouco tempo de
antena que é dado por Tony Khan à Divisão Feminina. Detesto desapontar o senhor
Khan, mas quem faz essa crítica continua a ter razão, especialmente depois
deste combate.
Mas, ao mesmo tempo, eu creio que a questão não tem tanto a
ver com o tempo que é dado aos combates femininos per se, mas sim à
forma como este tempo é aproveitado.
Imaginem que vocês querem ter uma vida saudável, mas todo o tempo que têm livre para dedicar ao vosso objetivo de perder peso e ter um estilo de vida mais saudável se resume a não mais do que trinta minutos por dia.
É pouco tempo? Com certeza, para conseguirmos obter resultados nesse campo
talvez fosse mais sensato dedicar uma hora a duas por dia, que é, regra geral,
tanto a média como o recomendado por certos especialistas. Mas ao primeiro dia,
é apenas meia hora. Ao segundo, já passa a ser uma hora; ao terceiro, uma hora
e meia; e assim por diante. O que interessa é que o tempo que dispensam para se
dedicarem a fazer exercício físico seja constante e que tenham todo o vosso
foco direcionado para esse tempo.
Aqui passa-se a mesma coisa. O combate entre Mariah May e
Toni Storm teve apenas doze minutos (e vou-vos ser sincero, eu estava tão
investido no combate que até pensei que fossem muito menos). A questão é que
esses doze minutos foram muito bem aproveitados, com a ação a fluir
constantemente ao longo do tempo e a manter-se constantemente alta (a storyline
tinha atingido um ponto de não retorno de tal maneira que não se
justificava o tradicional crescendo na ação, que muitas vezes é a regra geral
até nos melhores combates). Houve uma alta dose de agressividade (com muito
sangue à mistura) que se justificava perfeitamente, dada, mais uma vez, a
história que se queria contar dentro do ringue.
Portanto, eu penso que o principal problema aqui não seja propriamente a falta de tempo para a divisão feminina, ou pelo menos, parece-me que ele continua a existir, mas em dimensões um bocadinho menores depois do que vimos. O principal problema passou a ser, na minha opinião, a forma como o tempo dedicado às mulheres num PPV ou show semanal da AEW é aproveitado.
Porque se o combate for bom, a malta não vai pôr tanta ênfase na questão da
falta de tempo, e vai sempre recordar a qualidade do combate. Eu não sei se foi
intencional ou não, mas foi uma grande jogada de Tony Khan rentabilizar o tempo
que dedicou àquele combate, ainda que pouco. E para comprovar tudo isto, Dave
Meltzer deu cinco estrelas a este combate! MILAGRE!! VITÓRIA!!
🚨 Dave Meltzer também divulgou sua nota para a luta Hollywood Ending da AEW:
— Women’s Wrestling Brasil (@AcervoWWBR) March 14, 2025
Toni Storm (c) vs Mariah May:
⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️
Essa foi a PRIMEIRA luta feminina fora do Japão a receber cinco estrelas. Merecidíssimo! pic.twitter.com/4RuRRrCidG
Bom, preâmbulo introdutório e louvores iniciais à parte,
vamos efetivamente ao que interessa: O Main Event. Cope vs Mox. O AEW World
Championship em jogo. Todas as críticas em volta da storyline e da
própria existência dos Death Riders como um grupo, e da idade relativamente
avançada de Cope, pelo menos avançada o suficiente para se andar a entreter com
hipóteses, mesmo que remotas, de ter uma última run como World Champion
na sua lendária carreira, numa altura em que conta 51 anos de idade.
Muitas têm sido as críticas a este combate, tanto à ação em
si, como ao facto de simplesmente serem Cope e Jon Moxley quem está frente a
frente a disputar o AEW World Championship.
Uma coisa de cada vez, meus caros comensais do wrestling, uma coisa de cada vez. Para começar, vou
contra a corrente, e vou dizer que eu não achei a ação tão má assim. Obviamente
que quem esperava um grande combate, quem esperava o Edge da primeira década do
século e o Jon Moxley pré-WWE ou mesmo aquele que, num passado já algo remoto,
foi United States Champion enquanto integrava um dos mais lendários grupos de
toda a História da indústria, apanhou uma valente desilusão. Nunca se poderia
esperar que Cope e Mox entregassem um combate ao nível daqueles que entregavam
há cinco, seis, sete anos.
Primeiro, e obviamente, pela questão da idade. Cope tem 51 anos, tem uma carreira no wrestling que toca as três décadas. Quando um wrestler chega a esta fase da sua carreira, o corpo começa a pagar a fatura de décadas de saltos e de voos, de murros e de pontapés.
Claro, nós enquanto fãs somos um pouco exigentes, às vezes até demais, e por isso queremos sempre ver aqueles wrestlers que crescemos a admirar a ter sempre uma bitola elevada nas performances que entregam. É a nossa exigência a ser alimentada pelo rotineiro fenómeno a que chamamos de nostalgia pop.
E não
vamos mais longe: Nos últimos anos da carreira do Undertaker, nós também
queríamos que ele tivesse bons combates, não queríamos? Mas também sabíamos que
o corpo já começava a dar os últimos sinais, que a fatura começava a ser
pesada. E – acho que isto não é blasfémia nenhuma – Undertaker deu muito mais
em ringue do que Cope ou Moxley, sobretudo porque veio de um tempo em que
enfrentou adversários muito mais exigentes (ele próprio deu um exemplo de um
combate que lhe tirou muitos anos da sua carreira, aquele contra Giant Gonzalez
na WrestleMania IX).
Depois, pela questão daquilo que é
suposto que Cope faça nesta fase da sua carreira. E esta tem sido outra das
críticas que os fãs têm feito ao booking da All
Elite, e que se alarga a outros wrestlers que são
mais ou menos contemporâneos de Cope, como Jeff Jarrett e Chris Jericho.
Como disse, Cope tem 51 anos. Tem
uma carreira que toca as três décadas. Nessas três décadas, já fez tudo o que
podia fazer na indústria. Já esteve no topo, já esteve no fundo. Não devia ser
o seu principal foco trilhar um novo caminho para as novas gerações da AEW, em
vez de ocupar o seu lugar? Não devia ser o seu principal objetivo ajudar a
deixar a AEW um lugar melhor do que encontrou quando lá chegou, em vez de
continuar a atrair sobre si as críticas e a ser a personificação de um dos
principais males que aflige a Elite neste momento?
E agora, falemos de Jon Moxley. E
falar de Jon Moxley é, para mim, um exercício difícil, porque eu confesso-me fã
do Mox desde os tempos em que ele era Dean Ambrose. Sempre gostei do seu estilo
a pender mais para o street fighting, que se
reflete também naquilo que é o seu estilo e maneirismos (sobretudo a nível de ring gear e entrada). Há tanta gente a reclamar – incluindo o
próprio Mox – das constantes vezes em que teve que fazer alívio cómico em
certos momentos da sua carreira na WWE, quando poderia ter sido muito mais
sério (ele parece perceber que esse desejo é unânime) e até isso ele fazia com
uma certa eficácia.
E falar de Jon Moxley e difícil porquê?, perguntam vocês. Porque, se há coisa que este combate demonstrou, tanto a nível da sua apresentação, como a nível das suas skills, é que Moxley está, cada vez mais, a estagnar, e isto é sempre difícil de admitir para quem é fã.
A estagnação de Moxley ocorre, a
meu ver, de dois fatores: Primeiro, das limitações cada vez mais frequentes que
vem demonstrando em ringue. E com isto chego à conclusão de que a AEW não é
apenas uma alternativa à WWE, não é apenas uma empresa de wrestling a tentar ter sucesso. A AEW é, acima de tudo, uma
empresa que testa quem é que tem a capacidade de vingar no mundo do wrestling – em qualquer empresa – e quem é que está definitivamente
talhado para um estilo típico da WWE, onde não são precisos grandes atributos
para se destacar e onde as histórias tomam primazia relativamente à ação.
Mas Jon Moxley vem demonstrando limitações cada vez mais frequentes em ringue. E acho que isto é bastante óbvio pelo facto de, em 90% dos combates em que luta, ele se apoiar excessivamente no facto de estar quase sempre a sangrar para fazer um bom combate.
Eu acho que tanto Jon
Moxley como os responsáveis da AEW tardam em perceber – e eu também já o disse
aqui variadíssimas vezes – que o facto de um combate ter sangue não é requisito
obrigatório para lhe aumentar a qualidade, mas é, simplesmente, um acrescento.
Um combate que seja bom pela ação, pela brutalidade, não precisa de ter sangue.
Mas, se o tiver, pode ficar ainda melhor.
Depois, Jon Moxley é um vazio em
termos de carisma, pelo menos nesta fase. Aquilo que ele está a fazer neste
momento não é mais do que um exercício muito genérico das suas capacidades
enquanto heel. A sua gimmick, neste
momento, não tem um pingo de ousadia, nem tem um argumento, mais ou menos
justificável, em quem os fãs se possam apoiar para encontrarem credibilidade
naquilo que faz. Tudo aquilo que Jon Moxley se resume a fazer neste momento é
escudar-se atrás de Marina Shafir. E isto até acaba por ser bom, mas para a
própria Shafir – que graças a isto tem tido o tempo de antena que nunca teve
desde que transitou das artes marciais mistas para o wrestling.
E assim chegamos ao segundo fator:
Sabendo de todas as limitações que tem em ringue neste momento, sabendo que
nesta altura Jon Moxley é um vazio de carisma, porque é a AEW insiste em colocar
nele o ónus de carregar a companhia às costas como AEW World Champion? Porque é
que a AEW repete, constantemente este erro quando há Swerve, Hangman, MJF,
Will, Kenny, etc.? Se fosse por falta de pessoal…
Em suma, eu penso que a principal
questão que deve ser trazida para cima da mesa nunca poderia ser sobre a
qualidade do combate, mas sim se Cope e Jon Moxley deviam estar a protagonizar o
Main Event de um PPV na fase da carreira em que estão. Porque sim, um mau Main Event pode estragar um bom PPV, sobretudo quando esse PPV
tem no seu card uma sucessão consistente de bons
combates que seriam, sem dúvida, melhores escolhas para ocupar esse posto.
E vocês, o que acharam do Main
Event do Revolution? Acham que um mau Main Event pode
estragar um PPV?
E assim termina mais uma edição de
“Lucas Headquarters”!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site e pelas nossas
redes sociais, deixem a vossa opinião aí em baixo… O costume. Para a semana cá
estarei com mais um artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!!