Lucas Headquarters #186 – Um "rapaz de ouro" na WWE?
Ora então
boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Bem-vindos sejam a mais uma
edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!!
Já escrevi muitos artigos sobre o wrestling português e já o analisei de muitas maneiras. Já fiz um –
ou vários – revisionismos históricos – já previ futuros, já desejei que esta
nossa modalidade (que de repente se tornou uma modalidade de nicho) voltasse a
ter a preponderância que teve nos anos 90 e 2000.
Analisar o wrestling português é difícil precisamente por isso, por já não haver a “febre” que noutros tempos nos infetou. Já aqui disse várias vezes que, no final da primeira década deste século, muitos daqueles que viam wrestling abandonaram o barco.
Fatores para isso? Muitos, tantos que não vale a pena
estar aqui a esmiuçar, fazê-lo seria uma perda de tempo. Mas ainda assim,
destacam-se dois principais: Primeiramente, o fim da monocultura. O pico do wrestling
em Portugal dá-se em duas alturas distintas: Na primeira (fim dos anos 90),
não havia redes sociais. A única forma que o público tinha de se manter
informado ou de se manter a par das novas tendências era através da televisão.
E o wrestling aparece de facto numa
altura em que o que ainda era popular eram séries com algumas doses de ação
física, e ver wrestling era
acrescentar a isso umas belas doses de fantasia.
A segunda altura compreende a primeira década do século, e
vai desde 2002-03 até 2009-10, com o pico a verificar-se ali entre 2005 e 2008.
Nessa altura já podemos constatar que há uma subtil diferença: As redes
sociais, ainda que timidamente, começam a despontar (quem não se lembra, com
saudade, do MSN e do Hi5?), e vão tirando primazia à televisão enquanto meio
principal de influência cultural. E isto leva-nos ao segundo fator: O fim do kayfabe e da suspensão da descrença.
Kayfabe e suspensão da descrença são dois
conceitos muito semelhantes, com a diferença de que o kayfabe é exercido pelo emissor (neste caso, a WWE) e a suspensão
da descrença é algo levado a cabo por nós enquanto fãs, que voluntariamente
trocamos a realidade pelo entretenimento.
E porque é que eu estou a fazer este revisionismo pela
milésima vez, perguntam vocês que já estão fartos de ouvir isto. Porque nos
últimos anos a tendência tem vindo a inverter-se. De uma forma igualmente
lenta, é verdade, mas tem vindo a inverter-se.
Reparem: Temos o PT WrestleFest a dar cartas, trazendo
constantemente eventos a lugares simbólicos do país (Parque Mayer, por
exemplo), temos a Invicta Wrestling a surgir (já aqui falei sobre isso)…
portanto os sinais que o wrestling português
nos está a dar só podem ser positivos.
Quem é João “Goldenboy” Santos?
João Santos
é apontado como uma das grandes promessas do wrestling europeu, e quem o viu de perto sabe o potencial que tem
para chegar aos altos voos.
O primeiro
atributo que nos salta à vista é a sua invejável robustez física (1,94
metros/100 kg), o que me faz pensar que, se Vince McMahon ainda comandasse os
destinos da empresa, o lugar dele já estava garantido.
Apesar de, só agora, grande parte do público se estar
realmente a aperceber do potencial que Goldenboy tem e aquilo que pode vir a
ser (o que um tryout pela WWE não faz…) a verdade é que João Santos já é
um nome bem conhecido do circuito europeu da nossa modalidade.
Para além das suas participações nos eventos do PT
Wrestlefest (esteve no Almada Wrestlefest em Abril de 2023 onde enfrentou
Leo Rossi pela Almada Cup; no Lisboa Wrestlefest de Julho do mesmo ano, onde
enfrentou Pegaso; e no Straight Outta Almada de Novembro desse ano, onde venceu
Rafael Pedras pelo National Absolute Title), o wrestler português também
já partilhou ringue com alguns dos nomes mais conhecidos da indústria, como
Axel Tischer (que passou pela WWE como Alexander Wolfe, fazendo parte de stables
como SAnitY e Imperium) e também com o atual TNA X Division Champion, Moose,
contra quem combateu em Fevereiro deste ano no OTT Aftermath 3.
Como Killer Kelly e Shanna
A confirmar-se aquilo que todos esperamos e caso João Santos
passe o tryout, o português será o terceiro lusitano a pisar um ringue
de uma das maiores companhias de wrestling neste século (quarto, se
acrescentarmos a esta lista Justin Credible, wrestler canadiano filho de
portugueses).
Os outros dois – ou, neste caso, as outras – wrestlers a
conseguir chegar ao pináculo do wrestling mundial foram Killer Kelly, em
2018-19 e Shanna, em 2020-21. Raquel Lourenço foi um dos primeiros nomes a
constar do roster do então recém formado NXT UK (onde também figuraram
nomes como “Timeless” Toni Storm e Rhea Ripley) enquanto que Shanna foi parte
do roster da AEW entre 2019 e 2021. Até começou bem – estreou-se contra Hikaru
Shida num dos primeiros episódios do Dynamite, mas depois não conseguiu dar
grande continuidade. Esteve oito meses ausente, quando regressou venceu Tesha Price,
e no final de 2021 foi-lhe comunicado que não veria o seu contrato renovado.
Mas as semelhanças entre Killer Kelly e Goldenboy não se
ficam apenas pela questão do wrestling e da portugalidade. Isto porque o
percurso de ambos também passou por uma das maiores empresas da cena europeia
de wrestling: A Westside Xtreme Wrestling (WxW), onde Goldenboy foi
treinado por alguém que hoje é um dos principais nomes da indústria.
Isso mesmo. Goldenboy Santos enfrentou um dos desafios mais
exigentes da sua carreira ao ser treinado por Gunther (na altura conhecido ainda
por Walter). E todos nós sabemos como é ser mentorado como alguém para quem o círculo
quadrado é das coisas mais sagradas que existe…
Outra das curiosidades sobre Goldenboy Santos – que aparentemente
terá aberto a porta a este tryout – foi a sua participação como segurança
no SmackDown em Barcelona, há duas semanas. A sua prestação nesse papel chamou
a atenção da WWE, e é interessante pensar como um papel tão secundário – e às
vezes, meramente figurante – pode ter aberto as portas a algo tão grandioso, no
wrestling como em tudo na vida.
O triunfo do wrestling europeu
Ok, talvez a expressão “triunfo” neste contexto seja um tanto
quanto exagerada – porque não sabemos se, daqui a cinco ou dez anos, esta
passagem pela WWE dará frutos a João Santos (embora, obviamente, seja essa a
nossa esperança), mas é impossível negar o impacto da cena europeia do wrestling
nestes últimos anos, e o quanto esta nova fase da carreira do “Goldenboy”
contribui, uma vez mais, para a consolidação e sucesso do continente europeu
como um território a ter em conta na geopolítica do wrestling.
Gunther (Áustria). Ilja Dragunov (Rússia). Killer
Kelly e Shanna (Portugal). Piper Niven e Drew McIntyre (Escócia). Axiom (Espanha). Giulia
(Inglaterra/Itália).
São muitos os nomes que, nos últimos anos, deram nome e
reputação ao continente europeu quando o assunto é wrestling (embora
Giulia tenha sido treinada fora da Europa, muitos dos seus maneirismos em
ringue têm origem no seu background italiano) e com certeza ainda
existiriam mais alguns. Isto acompanha também aquela que tem sido a tendência
dos últimos anos, sobretudo desde que Triple H assumiu o comando criativo da
WWE: A empresa tem visto na Europa uma grande fonte de rendimento e de
popularidade, algo que era muito raro acontecer na visão unilateral de Vince
McMahon.
Esse é um tema que eu posso desenvolver, se quiserem, num
outro artigo, mas para já é importante dizer que a Europa tem contribuído muito
mais para a popularidade da WWE do que a América nos últimos meses. E isso
acontece porque o público está disposto a dar ao wrestling aquilo que o wrestling
precisa de ter: A emoção, o espetáculo e o engajamento de quem está a
assistir ao vivo, e porque a qualidade dos próprios wrestlers também proporciona
isso.
Os wrestlers europeus não são os mais extravagantes a nível de move-set. Destes nomes que enumerei, apenas Axiom se destaca pela espetacularidade do seu arsenal, enquanto Gunther é aquele tipo de wrestler que faz a move mais básica parecer a mais eficaz, assim como Dragunov.
Mas é precisamente esse contraste de estilos que faz com que
os fãs se prendam a esses wrestlers. Obviamente que existem aqueles que
preferem o estilo mais virtuoso de Axiom, mas o elevado sucesso do número de wrestlers
europeus que empregam um estilo mais técnico faz com que os fãs também
olhem para a Europa do wrestling com outros olhos.
E aqui, mais uma vez, entra Goldenboy Santos. Não porque o
seu estilo seja muito diferente daquele que Gunther e Ilja Dragunov empregam
(não é, embora no aspeto físico ele esteja, talvez, muito mais próximo do
austríaco) mas porque representa mais uma oportunidade para colocar Portugal
num mapa de onde nunca devia ter saído, e onde está a tentar voltar com
esforço. Não sabemos o que lhe reserva o futuro (numa indústria como esta, o futuro
é coisa incerta). Sabemos, sim, que João Santos já está a fazer história, mesmo
que o seu futuro não passe pela WWE.
E vocês, acreditam que Goldenboy Santos passará o tryout?
Acham que terá futuro na WWE?
E assim termina mais uma edição de
“Lucas Headquarters”!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site e pelas nossas
redes sociais, deixem a vossa opinião aí em baixo… O costume. Para a semana cá
estarei com mais um artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!!